O CONTO DA BEIJA-FLOR
O camarada Subcomandante Marcos nos ensinou uma história sobre uma beija-flor. É uma história que reescrevemos ou, melhor dito, plagiamos, como quase tudo.
A floresta pega fogo. Os animais correm desesperados para escapar das chamas, mas uma beija-flor voa na direção oposta. Um cervo para e pergunta: “O que você está fazendo? Você vai em direção às chamas”.
E a beija-flor responde: “Sim, lá há um lago”.
Então, o cervo descrente diz: “Você não pode apagar o fogo: seu bico é muito pequeno e não conseguirá levar água suficiente”.
Ao que o beija-flor declara: «É verdade. Só uma gota eu posso carregar no bico, mas estou fazendo o meu».
Quando voamos com uma gota em nossos bicos, às vezes derramamos a água, outras chocamos. Planar no ar não é a nossa maior qualidade. Já perdemos um par de penas, um par de amores e, na outra vez, alguma de nós já ralou um pezinho. Não sabemos como conseguimos nos levantar novamente, abrir as asas mais uma vez, recebendo o sol no rosto e a lua na barriga. No entanto, nossa floresta pega fogo. Ela arde porque a incendiaram na tentativa de acabar com todas as possibilidades de vida, de acreditar, de respirar, de brincar, de prazer.
“Não nascemos para sobreviver”, disse-nos no ouvido Audre Lorde, a poeta negra.
O nosso é a vida, tão simples quanto isso, não a sobrevivência: viver sobre a vida. Em que momento começamos a lutar por nossas vidas quando nós damos vida? E, claro, aparecem pessoas corajosas que, gota a gota, carregam água em seus bicos. Não é fácil, é doloroso e nada é garantido, mas é hora de levantar-se como manada, uma coalizão de figuras circenses e reaprender a lutar.
Texto: María Teresa Garzón Martínez.
Traducción: Guiebeu Ballesteros Ávila